Superação
Cem dias de vitória contra a leucemia
Após transplante de medula óssea em Brasília, Aísha Schaun está de volta a Pelotas e comemora sucesso da cirurgia
Jô Folha -
Há cem dias, Aísha começou uma nova vida. Após realizar o transplante de medula óssea, ela está totalmente livre da leucemia. A pelotense Aísha Schaun, de 19 anos, voltou à cidade nesta semana, depois de uma temporada de quatro meses em Brasília, onde realizou a cirurgia. No tempo longe de casa, ela enfrentou quarenta dias de internação e uma rotina de medicações fortes, terapias intensivas e visitas diárias ao Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF). Agora, curada e de volta, a menina se prepara para retornar às suas atividades.
Aos nove anos de idade, Aísha enfrentou pela primeira vez a batalha contra a leucemia, tipo de câncer que afeta os tecidos formadores do sangue. A segunda vez foi na adolescência. E em junho do ano passado, aos 19 anos, veio novamente a surpresa da doença. A única solução para se ver totalmente livre do câncer era o transplante de medula óssea. A possibilidade de cura era animadora, mas ainda havia alguns desafios a serem enfrentados.
O primeiro foi encontrar um doador compatível. Depois, ela e a família uniram forças para arrecadar dinheiro suficiente para se manter em Brasília, onde a espera pela cirurgia seria menor. Se realizado em Porto Alegre, o transplante demoraria seis meses para acontecer e Aísha não podia esperar. A história da garota mobilizou a comunidade e ela conseguiu a quantia necessária para ir à Brasília. A luta, porém, estava só começando.
Preparação para o grande dia
Em fevereiro deste ano Aísha deixou Pelotas e partiu rumo à capital federal com o pai, José Luis Schaun, seu companheiro fiel na batalha contra a leucemia. "Somos grudados desde sempre", conta a menina. Já em Brasília, ela iniciou a rotina pré-transplante, quando o corpo do paciente é preparado para receber as células sadias da medula doada. Nesse período, ela manteve uma página no Facebook, Diário do Transplante, usada para compartilhar suas experiências e tirar dúvidas de quem fosse passar por situações parecidas.
Essa fase inclui intensas sessões de quimioterapia e radioterapia, tratamentos que podem gerar fortes efeitos colaterais. Além da perda do cabelo, Aísha sofreu com febre, náuseas e a chamada mucosite. A enfermidade fez com que feridas se espalhassem por todo o seu corpo, da boca ao intestino. Atividades simples como comer ou beber água se tornaram desafios. Desse período até o retorno a Pelotas, Aísha emagreceu 20 quilos. "Por estar acostumada com a rotina nos hospitais, achei que seria tudo muito tranquilo. Não foi. Foi pesado", recorda.
Segundo nascimento
No dia 13 de março, o tão esperado momento chegou. Nesta data, a medula óssea doada foi transplantada. Mas o processo não é tão simples: é preciso que o corpo não rejeite as células sadias transfundidas e deixe que elas se instalem. A partir daí, uma nova fase é iniciada: a torcida pela "pega da medula". É quando o corpo aceita as novas células e inicia a recuperação da medula. Apesar das incertezas, Aísha enfrentou o período com uma serenidade que impressiona. "Eu estava muito tranquila", relembra.
No dia 1º de abril, a boa notícia: a medula pegou. As funções das células se normalizaram. Em 15 de abril, depois de 41 dias de internação, Aísha recebeu alta do hospital. Um teste realizado 30 dias após o transplante confirmou o sucesso da operação: a medula óssea da garota estava totalmente constituída por células saudáveis. A luta de mais de dez anos estava vencida.
Próximos passos
Depois de quatro meses longe, no dia 15 de junho Aísha finalmente retornou a Pelotas. Agora, ela seguirá sendo acompanhada, mas em Porto Alegre. A menina irá a capital do estado, em média, duas vezes por semana. Ainda suscetível a infecções, deve tomar cuidados básicos, como evitar aglomerações, e seguir com alguns remédios. Fora isso, Aísha está totalmente recuperada e pronta para ter uma rotina comum. "Tudo está voltando ao normal, tudo vai se estabilizar", comemora.
Aísha está feliz em voltar à sua cidade e já tem planos para o futuro livre da doença. "Quero voltar para o grupo de violão e para o grupo de jovens da igreja", diz. No próximo ano, ela pretende fazer um cursinho preparatório para a universidade. O curso ainda está sendo decidido. "Arquitetura, quem sabe", planeja. Embora reconheça que foram tempos difíceis, ela relembra o período em Brasília com aceitação e tranquilidade: "foi pesado mas valeu a pena. Foi pra ficar livre da doença, pra não ter nunca mais. O que é esse tempo perto de uma vida inteira?".
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